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75 anos de Formula 1 cheios de História

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O que é que se diz a alguém que faz 75 anos?

Damos-lhe os parabéns, claro. Recordamos a experiência dos três quartos de século que passaram e juntamos votos de que os próximos anos sejam fantásticos, ainda que – sabemo-lo – gozados a um ritmo mais lento, compassado e contemplativo do que o dos anteriores. A verdade é que, apesar da evolução extraordinária das nossas condições de vida, a natureza de que somos feitos não nos engana e sabemos que, aos 75, já passámos largamente metade da nossa existência nesta forma e estamos a caminhar para o que será o fim. Ou, pelo menos, uma mudança de estado de que sabemos ainda muito pouco.

Mas, por estranho que pareça, tudo isto é o contrário do que pensamos ao celebrar os 75 anos que a Formula 1® assinala neste ano de 2025. Experiência de “vida”? Sim, claro. Muita. E que experiência! Recuar até 13 de maio de 1950 e àquela primeira corrida que teve lugar em Silverstone – na altura, muito mais um aeródromo do que uma pista de automobilismo – é mais do que uma viagem no tempo; é um salto quântico para uma realidade alternativa que parece, hoje, uma espécie de Idade Média automobilística e, às vezes, filmada. As comparações entre o ponto em que estamos hoje e aquilo a que chamavam F1 há 75 anos são quase impossíveis.

Acham que é exagero? OK. Então, vejamos: o capacete do primeiro campeão do mundo, Giusepe “Nino” Farina (um verdadeiro duro que se licenciou em Direito com especialização em Ciência Política) não era mais do que uma fina e clara camada de linho e um par de óculos que impediam, ou tentavam impedir, os muitos detritos de atingir os olhos dos pilotos. Evoluíram ligeiramente nos anos seguintes, passando a estruturas mais rígidas de cortiça prensada, mas nada que se compare às verdadeiras células de sobrevivência portáteis em que hoje, cada piloto, confia quando fecha a viseira e parte para o “combate”.

Helmut Marko y Max Verstappen, Red Bull Racing RB20Red Bull Content Pool

É apenas um pormenor, sim, mas se pensarmos na quantidade de acidentes fatais ou incapacitantes que já aconteceram por causa dos capacetes temos uma pequena medida da evolução que toda a F1 sentiu nestes 75 anos. O inglês Alan Stacey perdeu a vida no GP da Bélgica de 1960 porque um pássaro colidiu com a sua cara a 190 km/h. Um capacete aberto, como eram todos à época, não protegeu o piloto, que se despistou e, infelizmente, morreu. Helmut Marko – sim, esse mesmo, o Dr. Helmut Marko – foi vítima inocente de um acidente no GP de França de 1972. Quando uma pedra levantada por outro carro se dirigiu diretamente à viseira do seu capacete, furou-a, cegando imediata e definitivamente o então piloto austríaco e hoje todo-poderoso (esperamos que Christian Horner não esteja a ler esta parte) consultor da Red Bull. Em 2009 – sim, há pouco menos de 15 anos – uma mola que se soltou do Brawn GP de Rubens Barrichello e atingiu o capacete de Felipe Massa deixou este último em coma e com prognóstico muito reservado durante semanas.

Todos estes acidentes conduziram aos 1250 gramas de fibra de carbono que, hoje, são suficientemente resistentes para suportar o peso de um tanque de guerra, para resistir sem se deformar ao impacto de uma mola atirada a 250 km/h e cuja viseira (que suporta temperaturas superiores a 7000C) é capaz de deter um projétil disparado diretamente contra si.

Se tudo isto parece saído de um romance de ficção científica, que dizer da aerodinâmica? Já olharam bem para uma daquelas gloriosas máquinas dos anos 50? Sim, muitas tinham sido desenhadas e construídas antes da II Guerra Mundial, mas mesmo o pináculo tecnológico daquela década – o Mercedes W196, especialmente na sua versão carenada ou stromlinienwagen –, um carro que venceu os dois únicos campeonatos em que participou, ganhando 9 das 12 corridas que iniciou, é um verdadeiro tijolo ao pé dos carros que competiam 15 anos mais tarde e que já tinham “asas”. E esses são peças jurássicas quando comparados com os carros de 2008, cujos apêndices ondulados parecem saídos diretamente de uma nave extraterrestre mesmo para um miúdo habituado aos carros dos anos 70 e 80. Já para não falar dos monstros de hoje, grandes, sim, imponentes e de difícil coabitação numa pista como a de Mónaco, quase, quase a serem verdadeiros Transformers, quando, em 2026, uma porção ainda mais importante da aerodinâmica mudar durante cada volta, mas tão eficazes que a velocidade a que descrevem as curvas nos fazem esfregar os olhos para ter a certeza de que não estamos a sonhar.

Podíamos falar dos motores, que passaram de máquinas oriundas de aviões, com menos de 300 cv e consumos de quase 100 l por cada 100 kms para as verdadeiras peças de filigrana motopropulsora que hoje percorrem os 305 kms de corrida com 100 kgs de combustível. E cerca de 1000 cv. Já não são motores de avião, de facto. São foguetões!

Tudo isto e muito mais mudou nestes 75 anos. Os pilotos, desde logo. Na idade com que se iniciam no desporto, passando de veteranos sobreviventes de guerras para jovens ainda sem carta de condução. De sobreviventes das pistas, habituados a perder amigos em acidentes a cada fim de semana (entre 1950 e 1969 morreram 29 pilotos ao volante de carros de F1), para atletas capazes de sair incólumes de autênticas bolas de fogo (à atenção de Romain Grosjean, nas suas palavras, “o homem que caminha através do fogo”). Na atenção mediática que merecem, não conseguindo escapar a juízos constantes de cada um de nós nas suas vidas. Na preparação física e mental a que recorrem, sendo verdadeiros atletas de alta competição, dispostos a disputar 24 olimpíadas, mundiais de futebol ou grand slams em cada temporada. No dinheiro que ganham também, claro, deixando de lado a condição de mortais que tinham os Fangios, os Clark e os Andretti de antigamente, obrigados a correr em tudo o que pagasse alguma coisa, para os semi-deuses de hoje, que se podem reformar sem grandes preocupações quando penduram os capacetes.

Monaco Formel 1 26052019Getty Images

Mudou a estrutura do desporto também, transformando um clube de companheiros curiosos que viajava como um circo itinerante, com nódoas de óleo e cheiro a gasolina, numa indústria VIP que percorre as montras mais exclusivas do planeta, valendo mais de 20 mil milhões de dólares e apresentando uma fatura de 9000€ por cada km que um F1 percorre ao longo do ano. Já agora, cada F1 vale, com engenharia incluída, cerca de 15 milhões €. Ou metade do orçamento de uma equipa de ponta da Copa América…

O que é que mudou nestes 75 anos? Muito. Quase tudo. O que é que não mudou? Por estranho que pareça, o mais importante.

Não mudou o facto de estarmos sempre perante as máquinas automóveis mais perfeitas de cada momento, fruto da imaginação de autênticos génios que poderiam, se a isso se dedicassem, construir cidades subaquáticas, erigir pontes sobre oceanos ou resolver a crise climática (se lhes pedirem com jeitinho, talvez tenhamos hipótese…).

Não mudou o ritmo da competição mecânica mais acirrada do planeta, em que cada milissegundo é disputado, cada milésima parte do milímetro (ou micrómetro) aproveitada, cada talento explorado para lá do humanamente possível, elevando a fasquia a cada ano, deixando-nos, como dissemos, 75 anos depois, a séculos de distância da primeira corrida de F1.

Não mudou também a vontade de ganhar de cada um daqueles gladiadores. De ser o primeiro, o mais rápido, o mais audaz. O autor da volta mais inacreditável que já vimos, a milímetros do muro e em contrabrecagem controlada em aceleração. O que fez a ultrapassagem mais arrojada, vindo de anteontem e já a rezar para sair da curva com o carro inteiro ou a descobrir grip onde ninguém imaginava que existia. O primeiro a ver a bandeira de xadrez, com o punho erguido a dar um murro nas probabilidades e a soltar um grito causado por anos de frustrações, por manobras falhadas e por azares mecânicos quando já via a meta (mas, a pedido da FIA, sem linguagem “profana” ou ofensiva, se puder ser e não der muita maçada).

Não mudou, por fim, a nossa paixão ao ver cada um destes heróis fazer a magia que só está ao alcance dos grandes. Sim, dos grandes, porque o são todos. Não deixamos de os comparar, de discutir à exaustão por que razão gostamos mais de uns do que doutros, de gozar com os amigos quando os “deles” não ganham. Mas não esqueçamos que são sobredotados e que merecem todos a nossa admiração. Mesmo os que ganham aos nossos favoritos. Sobretudo esses, até. Porque fazem das vitórias dos “nossos”, das “nossas” vitórias, momentos ainda mais valiosos, satisfatórios e inesquecíveis.

Ao iniciar a temporada que celebra os 75 anos da Formula 1® – e podes acompanhar a temporada toda aqui, na DAZN, desde que o primeiro carro entra em pista para os testes do Bahrain até à última volta da última corrida –, uma época que promete estar ao nível das melhores que já vimos em muitos anos, celebremos um desporto que nunca esteve tão jovem, tão fértil em novidades técnicas, tão famoso e apetecível. Aproveitemos este mundo da F1 com tudo o que de bom ele tem: a cor, o barulho (que ainda o há, sim), a agitação, as notícias bombásticas e as pequenas insinuações que as revelam, as horas de conversa que teremos, as discordâncias e os consensos. Celebremos a F1 como ela merece no seu 75.º aniversário. Com a paixão que ela desperta e a vontade que temos de saber como vai continuar a surpreender-nos enquanto por aqui andarmos, com pena de não a acompanharmos depois disso, mas com a certeza de que estará, na altura, ainda mais jovem do que hoje.

Vem daí connosco! Boas corridas com a DAZN!